De acordo com a Juceb, número é 10% maior que no mesmo período de 2016; apesar disso, saldo é positivo
Nos últimos meses se tornou comum andar pelas ruas e shoppings baianos e encontrar lojas que estão fechando as portas. Até agosto deste ano, 12.029 empresas foram extintas no estado, segundo a Junta Comercial da Bahia (Juceb), número 10% maior que no mesmo período do ano passado. O número de empresas fechadas em 2017 é o pior dos últimos quatro anos.
A empresa gerenciada por Juliano Rodrigues, 25 anos, não conseguiu sobreviver à redução de clientes. Segundo ele, nos últimos meses, o bar e lanchonete Hot Dougie’s Rendezvous contava apenas com os frequentadores mais fiéis. A consequência foi a queda no faturamento.
O Hot Dougie’s funcionava no Porto da Barra desde março de 2014 e fechou as portas no mês passado. Um Festival de Cerveja Artesanal promovido pelo bar chegou a receber público de mais de 10 mil pessoas em 2014. Em 2017, o mesmo evento contou com pouco mais de mil participantes, de acordo com Rodrigues. Com o fechamento da lanchonete, ele passou a trabalhar em casa para cuidar do filho Jullius, de 1 ano.
Crise e mudanças
O número de empresas extintas até agosto deste ano é maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando 10.935 foram fechadas. Em todo o ano de 2016, foram 16.812. Já em 2015, o volume de empresas que encerraram as atividades, segundo a Juceb, foi de 10.595. Para o presidente da Junta, Antônio Carlos Tramm, o aumento de extinções pode ser explicado, além da crise, por causa das mudanças nas regras para encerrar uma empresa.
“Quando você vive um período de crise você tem oscilações desse tipo. Antigamente, as pessoas abriam empresas, pequenas e médias, depois descobriam que não era o seu negócio e deixavam a empresa lá, à toa. Para melhorar as coisas, o governo criou uma facilidade pra extinção de empresas, permitindo que o débito da empresa seja transferido para o CPF do dono”, diz.
Saldo positivo
Apesar do alto número de extinções, o saldo de empresas na Bahia continua positivo, segundo a Juceb. Este ano, 17.329 foram abertas, número 44% maior que o número de empresas extintas no estado. De janeiro a agosto de 2016, foram 15.870 empresas constituídas, e em todo o ano foram 24.317. Já em 2015, foram 17.500 constituições.
Além disso, Tramm destaca a movimentação das empresas nos últimos anos. “Um outro dado interessante são alterações das empresas, como aumento de capital, inclusão e saída de sócios, que vêm crescendo no estado. Nesse momento de crise, os empresários estão se movimentando mais”, observa.
Foi o caso do restaurante e bar Utopia, que funcionou de 2013 a fevereiro deste ano no Rio Vermelho. De acordo com o sócio Marcelo Conde, 29 anos, uma alternativa encontrada para a redução do faturamento foi a dedicação ao ramo de eventos. “O consumo no bar reduziu em cerca de 20% nos últimos meses. Então, preferimos nos dedicar exclusivamente aos eventos. A demanda de trabalho é menor e o retorno é maior”, revela.
Abre e fecha
Das 17.329 empresas que foram abertas este ano na Bahia, 7.241 (41,9%) são de prestações de serviços, segundo a Juceb. O segundo setor com maior número de abertura de empresas é o de comércio varejista, com 6.247 (36,05%).
Quanto à extinção de empresas este ano, o comércio varejista é o setor recordista, com 48% das mais de 12 mil fechadas. Para o presidente do Sindicato dos Lojistas da Bahia (Sindilojas), Paulo Motta, a instabilidade econômica e política do país tem afetado diretamente o setor.
Ele estima que nos últimos dois anos, cerca de 50 mil lojas em todo estado fecharam as portas. “O que a Juceb traz são as empresas que têm condições de dar baixa na Junta, tem um volume muito maior de empresas que não fecharam as portas oficialmente”, explica.
Motta afirma que a projeção até o final do ano é de agravamento da situação em todo o país no setor do comércio.
Em 2015, Bahia abriu mais empresas do que fechou, revela IBGE
A Bahia teve saldo positivo de 2.037 empresas ativas de 2014 para 2015, segundo a pesquisa Demografia das Empresas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quarta-feira (40. O levantamento é realizado com base no Cadastro Central de Empresas (Cempre), do próprio instituto, e usa dados referentes a 2015, ano em que o Brasil enfrentava o auge da crise econômica. Naquele ano, o PIB (soma de todos os bens e serviços produzidos) caiu 3,8%, no pior resultado em 25 anos.
Em todo o país, o total de empresas caiu 0,1% de 2014 para 2015 com 5 mil empreendimentos a menos. Essa dinâmica negativa na demografia das empresas brasileiras provocou um recuo de 3,9% no número de pessoas ocupadas no mercado formal de trabalho e queda de 4,5% no pessoal ocupado assalariado. Em números absolutos, 1,6 milhão de pessoas perderam o emprego.
O IBGE divulgou que, entre 2014 e 2015, a diferença entre unidades empresariais que abriram (entradas) e fecharam (saídas) ficou negativa pelo segundo ano consecutivo, em 4.417 no Brasil.
O estudo também analisa a taxa de saída de empresas da Bahia. Nesse aspecto, houve uma melhora, visto que a taxa caiu de 24,6% em 2014 para 16,3% em 2015. Com isso, a Bahia perdeu participação no total de empresas que saem da ativa em todo o país, de 5,4% em 2014 para 4,7% em 2015.
Mariana Viveiros, da Supervisão de Disseminação de Informações (SDI), explica que o Cempre usa banco de dados para fazer todas as pesquisas econômicas relacionadas às empresas. “Esse estudo, que o IBGE faz todos os anos, é a partir de um cadastro atualizado diretamente pelo instituto, com empresas formalizadas”.
Segundo o IBGE, a taxa de empresas que sobrevivem a mais de um ano abertas foi a maior da série e registrou valor de 84,4%, representando 3,8 milhões de empresas que continuaram ativas de 2014 para 2015. Santa Catarina (87,3%), Rio Grande do Sul (85,9%), Minas Gerais (85,6%) e Espírito Santo (85,5%) são os estados com as maiores taxas de sobrevivência. Por outro lado, Amazonas e Amapá (ambos com 76,7%), Roraima (79,8%) e Maranhão (78,9%) registraram as menores. Na Bahia, a taxa de sobrevivência das empresas ficou em 82,8%.
Em 2015, 37,8% das empresas criadas em 2010 ainda estavam ativas. Nesse período, as atividades que apresentaram as mais altas taxas de sobrevivência foram saúde humana e serviços sociais (54,8%) e atividades imobiliárias (50,8%). A taxa de sobrevivência mais baixa foi registrada pelo comércio (36,1%).
Legenda da foto: Juliano teve que fechar a lanchonete em setembro e passou a trabalhar em casa para cuidar do filho Jullius (Foto: Betto Jr./CORREIO)
Fonte: Correio da Bahia